Estrabismo Existencial
Se não fosses tão despistada, olha... tinhas reparado. A vida de uma pessoa mede-se pelo poder de observação. Como se não tivessemos mais em que pensar do que preocupar-nos em ver bem, olhar para os lados, ponderar coisas. Ponderar coisas é extremamente aborrecido. Até mais: é chato com'ó caraças. Pela parte que me toca, passo a vida a tropeçar. Ontem foi num alguidar azul clarinho, que toda a gente viu - menos eu - obviamente, e que tinha um diâmetro superior à soma das culpas de um grupo terrorista qualquer. Não tenho grupos terroristas no meu círculo de relações (a menos que não tenha reparado, o que é bem possível, e até posso ter). Até à data, sobrevivo sem reparar e, dadas as circunstâncias, com poucas cicatrizes (uma das quais é no joelho mas que tem piada). É assim como um "estado de graça": ver tudo menos o óbvio... Até podia rematar o texto dizendo que "a ver vamos", como me há-de continuar a correr, mas o mais certo é que me passe ao lado. Ou não... estas coisas, nunca se sabe.