segunda-feira, dezembro 18, 2006

Inconveniências

Penso nos meus amigos mais chegados... todos eles com um ar tão conveniente e arrumadinho. Eu sou aquela que está sempre a deixar cair coisas ao chão. Especialmente o saco. O meu saco está sempre a cair ao chão, em ataques de teimosia mesquinha, revelando - para meu embaraço - todo o seu conteúdo: boiões de creme, tampões, colheres de café, rebuçados, lenços de papel, ganchos de cabelo e chaves de fendas. Nunca me sobra intimidade nenhuma. Volta meia volta e trás! Cai-me a vida ao chão em lugares públicos. Geralmente é nos corredores de centros comerciais, mesmo ao lado das escadas rolantes, que é para toda a gente ver com indiferença e em câmara lenta.
Baixo-me. Tento enfiar tudo outra vez lá para dentro de forma metódica. Estou tão habituada que este despudor não me atrapalha minimamente...
Depois penso: e se em lugar de deixar cair o saco, o mal que não seria (o bonito que isso era!) se me caisse assim o coração, por trazer o peito mal fechado e tombasse revelando o seu interior. Por exemplo na secção de frescos de um hiper-mercado.
O meu coração gaiteiro, tinhoso e tosco a dizer-me "Toma lá que já almoçaste..."